A história se repete. O paciente chega ao consultório do médico e, ao ser perguntado se está seguindo a dieta com baixo teor de gordura e de sódio, jura de pés juntos que, sim, segue à risca as orientações do médico e da nutricionista. O aparelho de medicação de pressão arterial, contudo, conta outra história. A pressão arterial do paciente continua em níveis altos. Das duas uma, pensa o médico, ou o paciente não está tomando os medicamentos corretamente ou, o mais comum, não consegue abrir mão de uma dieta alimentar rica em sódio e gorduras, principais vilões da pressão arterial.
Especialistas da Unidade de Hipertensão do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP) não se intimidaram e foram a fundo na busca de resposta a essa questão. Eles recorreram a uma fonte de dados que torna impossível camuflar as evidências do consumo excessivo de sal: a urina coletada ao longo de um dia. Mesmo nessa população que tem acesso a informação e a tratamento qualificados, apenas 13,5% dos pacientes atingiram a meta de consumo de sódio preconizada pela comunidade médica internacional, que é de <100 mEq/24h (menos que cem miliequivalentes de sódio por dia) ou cinco gramas de sal, que preenchem três colheres rasas de café.
Os dados são alarmantes, diz o Dr. Luiz Bortolotto, cardiologista e diretor da Unidade Clínica de Hipertensão, “já que a pressão alta, mal que acomete um terço da população brasileira, é a origem de 40% dos infartos, 80% dos acidentes vascular cerebral (AVC) e 25% dos casos de insuficiência renal terminal”.
O estudo do Incor foi desenvolvido entre 2009 e 2011, com uma população de 949 pacientes em tratamento para hipertensão arterial ou para insuficiência cardíaca no Instituto. Os pesquisadores analisaram ao longo de 24 horas os níveis de concentração de sódio na urina dessas pessoas que foi, em média de 185/183 mEq/24 horas (cento e oitenta e cinco a cento e oitenta e três miliequivalentes de sódio por dia), quase o dobro dos valores de consumo de sódio recomendados (<100 mEq/24h).
Na visão de Bortolotto, o resultado reforça a tese cada vez mais defendida pela comunidade médica de que somente o trabalho multiprofissional poderá aumentar o sucesso do paciente hipertenso na mudança de hábitos de vida visando o controle da doença. A ação integrada de médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, farmacêuticos junto ao paciente tem dois efeitos importantes, diz o médico: “Acolhem-no em sua dificuldade de mudança de hábitos de vida, que é natural, e reforçam a mensagem de que tal mudança não é apenas fundamental para a sua saúde, mas é totalmente possível”.
As principais mudanças são simples de serem implementadas no dia a dia. “São apenas três passos: usar menos sal no preparo da comida e, se possível, raramente ou nenhum alimento processado. Além disso, seguindo a mesma lógica, o saleiro deve ser banido da mesa de refeição”.
Nesta quinta-feira (26), das 9h às 17h, médicos e nutricionistas do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP) farão medição de pressão arterial e orientação nutricional na população, para marcar o Dia Nacional de Combate à Hipertensão.
O Incor fica na Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 – Cerqueira César - São Paulo/SP.
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