quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"Meu pequeno Peter Pan", por Vovô Edilberto

O livro das nossas histórias fechou-se de repente! E o nosso Peter Pan – Lucca Peter Pan, pediu que Sininho, a sua fada amiga, o levasse de volta à Terra do Nunca.

Voou célere, usando as asas emprestadas do seu Anjo da Guarda. E foi, de novo, buscar aquelas lindas paragens das quais tinha se afastado por nove longos anos! A Terra do Nunca andava às avessas e precisava dele. Reclamava pelo herói que a tinha abandonado para nos trazer alegria!
E nós, que já nos tínhamos acostumado com a presença daquele pequeno moleque arteiro, tivemos que parar de sonhar com o “Era uma vez”...

Nosso Peter Pan já não passeia pelos nossos quartos buscando a sua sombra remendada. Ele a encontrou amarrotada e levou-a consigo. Hoje, nem mais a sua sombra temos a nos proteger! Restaram apenas lembranças! Muitas e doces lembranças! Lembranças da sua voz nos chamando pela casa ou nos dizendo o “Eu te Amo” com que nos brindava quase a todo o momento, só para tirar proveito do carinho.

Agora, esses chamados já não mais existem, e, mesmo ansiosos por ouvi-los mais uma única vez que seja, chorosos e contristados teremos de nos conformar que eles jamais ecoarão novamente na nossa casa! Eles se foram com o nosso Peter Pan fujão. Nunca mais aquela vozinha de criança nos chamará de Vovô ou Vovó. E jamais nos pedirá para ajudá-lo nos deveres de casa que lhe eram tão importantes, embora com toda aquela preguiça inocente para escrever mais do que duas frases inteiras! Meu Deus, quanta chamada de atenção lembrando-lhe que precisava estudar para que, quando crescesse, fosse um homem inteligente. Mal sabíamos nós, que Deus não nos permitiria vê-lo desfrutando dessa inteligência toda que lhe queríamos ensinar. O nosso pequeno garoto negou-se a chegar à idade adulta, como se soubesse resolver as coisas a seu jeito e em tempo muito menor!

E nós, que nos achávamos adultos bem resolvidos, percebemos a cada dia que passa o quanto dependíamos daquele sorriso alegre e das coisas que vivíamos aprendendo com ele. Ainda agora, sentado na frente deste computador, eu me lembro que, quando nos arvorávamos a jogar com ele aqueles joguinhos infantis, as admoestações eram freqüentes: - Não, vovô, você não sabe. Não é nada disso. Quer ver? É assim, ó! Aperta aqui, vovô, senão o Sonic não pula! Vai... vovô... pula agora. Não! Viu só? Você perdeu! Deixa pra mim, que você não sabe!
E eu não sabia realmente!

- Vovô, me dá uma moeda?
- Pra que?
- Pra comprar figurinha na banca, vovô. Você vai comigo? Olha, eu tenho dinheiro!
- Mas se você tem dinheiro, pra que quer moeda?
- É pra não gastar do meu! Tô querendo juntar pra chegar a 100 reais.

Ele sabia convencer-me. Usava o sorriso certo na hora em que eu mais precisava daquele sorriso.

- Tá bem... toma aí as moedas. Vamos na banca! Mas, não demora que está na hora de ir pro Colégio!

Pois é, essas coisas se acabaram! Foram pra Terra do Nunca com ele!

Como é triste escrever hoje a palavra “Nunca”. A saudade é muito forte! Deixa o nosso coração em frangalhos. Aliás, acho que nosso corpo todo está em frangalhos.


Um comentário:

Mirelli disse...

Meu Deus, que texto lindo! Seu pai é escritor, Lu? Incrível! Não tenho palavras para definir, mas diria que esse é um post colorido, cheio de vida. É isso: eu vi cores nele! Beijos! [Vovô do Lucca, que tal criarmos um novo mundo: "A Terra do Sempre"?]