terça-feira, 28 de abril de 2009

Entendendo a Pancreatite Aguda

Ainda não se pode afirmar nada com precisão, mas uma das suspeitas é que a dor na panturrilha, associada ao estado sub-febril que Lucca vem apresentando e às alterações em seus exames de PCR e lipase, sejam indícios de que ele pode estar desenvolvendo uma pancreatite aguda.

A pancreatite aguda é causada por uma inflamação no pâncreas -- órgão responsável pela produção de enzimas digestivas -- as principais são a amilase (importante na digestão de carboidratos), a tripsina (que actua sobre as proteínas) e a lipase (que digere a gordura). O pâncreas também é o responsável pela produção da insulina (que controla os níveis de glicose no sangue e que, se não tiver sua produção ocorrendo de forma correta, desencadeia uma doença chamada diabetes).

Na pancreatite, essas enzimas pancreáticas (que normalmente são lançadas nos intestinos delgados para ajudar na digestão) são ativadas dentro do próprio pâncreas e começam a danificá-lo. A inflamação aguda pode se intensificar e desencadear uma pancreatite crônica.

Duas são as principais causas de pancreatite: o etilismo (uso abusivo do álcool) e a existência de cálculos na vesícula biliar -- isso porque as enzimas digestivas vão do pâncreas para o intestino delgado usando como canal a bile, que vem da vesícula biliar e do fígado. A presença de cálculos biliares entupindo o canal pancreático impedem que as enzimas cheguem ao intestino. Elas ficam então acumuladas dentro do fígado, onde são ativadas, corroendo o órgão por dentro.

Normalmente, essa obstrução é temporária e provoca um dano limitado, que rapidamente se repara. Mas, se persistir, pode gerar uma lesão mais acentuada e permitir que a as enzimas penetrem na corrente sanguínea ou na cavidade abdominal, provocando irritação e inflamação do revestimento da cavidade (peritonite) ou de outros órgãos.


Outras causas possíveis
Há, contudo, outros fatores que também podem causar pancreatite, tais como traumas abdominais (pancreatite traumática); cirurgia abdominal; uso de alguns medicamentos, incluindo certos antibióticos (metronidazol, sulfa e tetraciclina), diuréticos tiazídicos e estrogênio); altos níveis de cálcio ou triglicérides no sangue; algumas infecções, como caxumba ou hepatite viral; etc.

Geralmente, a pancreatite aguda está associada a sintomas de muita dor e desconforto na região abdominal. É comum essa dor projetar-se para as costas, tórax, flanco ou para baixo. E pode piorar de acordo com a alimentação, em especial aquela mais gordurosa. Distensão abdominal (inchaço), náuseas, vômitos, febre, perda de apetite, cansaço, hipotensão e choque (pressão muito baixa que compromete em muito o funcionamento dos órgãos) também são sinais que costumam aparecer nos pacientes.

O médico especialista (gastroentereologistas e cirurgiões gerais) é a pessoa mais indicada para solicitar os exames necessários que poderão ou não confirmar a ocorrência de pancreatite, bem como para indicar a conduta de tratamento mais adequada.

Essa conduta varia de acordo com o quadro de cada paciente e pode incluir repouso no hospital, jejum, reposição de líquidos por via endovenosa, passagem de uma sonda pelo nariz até o estômago para controlar eventuais quadros acentuados de vômitos, nutrição parenteral (por uma veia grossa) nos casos mais graves, uso de medicamentos para proteger o estômago de úlceras de stress, medicamentos antibióticos indicados nos casos graves e quando a causa é a calculose biliar pela freqüente presença de infecção da vesícula (também chamada de colecistite).

Uma intervenção cirúrgica pode ser indicada como tratamento definitivo dos cálculos de vesícula (colecistectomia), nos casos em que há uma infecção pancreática documentada com abscesso (pus), necrose (deterioração) extensa do pâncreas, quadros acentuados de hemorragia, choque que não melhora, ou quando múltiplos órgãos apresentam insuficiência.



CURIOSIDADES

  • Os cálculos biliares e o alcoolismo são responsáveis por quase 80% das internações hospitalares por pancreatite aguda.
  • Estudos demonstram que as mulheres sofrem pancreatites de causa obstrutiva quase duas vezes mais que os homens.
  • Já a pancreatite de origem alcoólica é seis vezes mais frequente em pacientes do sexo masculino.

Um comentário:

Lilian disse...

Luciana, meu marido teve uma pancreatite com extravasamento de enzimas há 9 anos, na época o médico me disse que as chances de óbito eram de 90%. Hoje, 9 anos depois, ele teve mais duas, consideradas /'leves/' e estamos investigando porque isso ocorre. A primeira pancreatite desenvolveu diabetes.