Começo me desculpando.
Desde que foi criado em outubro do ano passado, de forma inclusive super despretensiosa, o Blog da Lu nunca ficou tanto tempo desatualizado....
Ao contrário. Escrever aqui, diariamente, era prá mim mais do que uma forma de compartilhar informações reais sobre o tratamento do meu filhote [Sim, porque, infelizmente, muitas especulações, dados incosistentes e informações mentirosas foram divulgadas, em especial via internet, a respeito da saúde e do dia-a-dia que rodeava o Lucca....].
Escrever aqui sobre aquela realidade diária foi um gostoso exercício de solidariedade, foi uma doação de esperança que eu, e também o Lucca!, queríamos fazer a outras tantas pessoas que podiam estar passando ou ter passado por situação semelhante àquela nossa. Mas foi, acima de tudo, quase que um exercício catártico prá mim...
De repente, a fórceps, não só escrever, mas tudo na minha vida simplesmente perdeu a cor. Enfadonho dia 19 de agosto de 2009...............
Desde então, perdi o chão diversas vezes (ainda perco!), caí, levantei, tornei a cair, tornei a levantar -- a ser levantada também, pela minha família, pelos meus dois pequenos, e por amigos daqueles AMIGOS mesmo, os de verdade.
Ao mesmo tempo, entre uma topada e outra, entre um tropeço e outro, botei na cabeça que não ia entregar os pontos. Não fiz isso até então. Por que fazê-lo agora? Não abandonei o barco quando vi, a olhos nus, minha vida ruir, como um arquivo que cai de cima de um caminhão de mudança....
A separação (que difícil decisão depois de 15 anos de um relacionamento complicadíssimo....); dois dias depois (sim, exatos dois dias depois!), a notícia de que o Cucca sofria de adrenoleucodistrofia...
Os medos todos, as fragilidades todas, o ter de segurar as pontas sozinha mesmo -- em casa, com as crianças, com os montes de dívidas que, de repente, cairam no meu colo...
A sensação de estar sem rumo, sem porto, sem ar...
A verdadeira caça a que dei início atrás de entender a doença, buscar alternativas, ir onde necessário fosse pra buscar respostas -- e fui! em todos os lugares, todos os centros de pesquisas, falar com todos os especialistas que se possa imaginar...
O choque pela perda do emprego no final do ano...
E nem vou entrar no período do transplante em si, muito menos do pós-transplante, de todos os estresses e erros no hospital, a partida do Lucca...
Se não sucumbi, desfaleci ou caí de vez mesmo soterrada por todos esses dramas despecando sobre minha cabeça, a pergunta que ficou foi: por que eu deveria fazer isso agora? Claro que, na rabeira, vem aquele emaranhado de dúvidas, revoltas, de um grito pesaroso que insiste em travar a garganta.... Por quê????
Tenho uma sensação nítida de que as respostas claras, completas, com todas as letras, nunca virão. A certeza que tenho, contudo, é que há um porquê. Eu acredito muito que nada é por acaso. E que o Lucca não veio a esse mundo a passeio. Ninguém vem. Não, isso não resolve as coisas dentro de mim. Nem sei se posso dizer que isso me conforta. Mas isso me mantém em pé, me chama à razão. Lembra a mim que todos temos missões a cumprir por aqui. Que ainda tenho a minha, e que devo cumpri-la bem, antes de reencontrar o Cucca e poder pegá-lo no colo, num mundo de luz que ele está cuidando de tornar ainda mais alegre pra todos nós....
Passei então a me focar em entender que caminho seguir, como seguir, prá onde, por que, prá que, prá quem....
NA PRÁTICA
E então que fiz trazer pra minha vida pessoal um pouco das experiências profissionais bem sucedidas. É sério! Comecei a desenhar um planejamento estratégico, de reposicionamento, de renovação. Elenquei quatro pontos-chave iniciais:
1. Comecei decidindo que choraria e me deixaria sentir frágil sempre que isso fosse mais forte, mas que não me permitiria ficar um dia sequer prostrada, entregue, vencida.
2. Perguntei a mim mesma como o Cucca, o Marccão e a Lella gostam de me ver. E combinei comigo que, por mais difícil que fosse despertar a cada dia, eu tomaria meu banho e iria pra frente do espelho colocar uma roupa legal, uma maquiagem bacana (ainda que eu chore ao longo do dia e pareça mais uma ursinha Panda rs....) e um saltão (sempre! adoro! me dão equilíbrio, me fazem me sentir bonita!).
3. Coloquei como meta voltar a trabalhar o mais rápido possível. Precisava manter a cabeça funcionando, precisava ter a sensação de que a vida estava sendo retomada. Precisava passar essa mensagem, essa segurança, eu diria, pro Marccão e pra Lella também.
4. Contemplei que algo precisava ser feito, que eu precisava eternizar de alguma forma, em meu nome e do Lucca, a experiência ímpar que vivemos. Deixar o assunto dissolver no tempo, como que fosse fácil simplesmente virar uma página, não era o mais providencial. Por isso, passei a pensar com muito carinho na idéia que vários amigos me deram de escrever um livro, falar a respeito, dividir, e de retomar o blog.
Voilá!
Em outubro, quando o Blog da Lu completa um ano de vida, ele voltará à ativa de fato. Nesse momento o que estou fazendo é pensar numa nova roupagem, numa nova linha editorial e de conteúdo -- coisa de jornalista que sou, me desculpem, mas quero muito escrever mantendo um caráter informativo, de prestação de serviço.
Aceito sugestões.
E convido a todos a participarem de duas ou três enquetes que lançarei.
4 comentários:
Oi Lu, adorei ler seu blog hj. Na verdade sempre gostei, mas hj vc esta especial. Acho que tem uma estrelinha nova no céu que está te iluminando muito, te encorajando mais ainda do que sempre esteve. Vou continuar lendo seu blog enquanto o livro não fica pronto. Mil beijos, Pity
Parabéns!
Agora, afinal encontro novamente o Blog da Lu iluminado pela luz radiosa dos olhos do Lucca. Certamente ele deve ter aberto muitos sorrisos largos e ruidosos, naquele ceuzão azul onde agora vive fazendo estrepolias.
E pensar que era isso que ele queria! Que esse Blog servisse de balcão de informações animadoras a todos os que se achassem temerosos por terem que se sujeitar a um transplante. Ele queria que soubessem que, assim como tudo tinha dado certo com ele, todo mundo ficasse certo de que também sairiam vencedores. E Lucca queria se sentir porta-voz dessa boa nova! Desmistificar o medo e a insegurança dos fracos, mostrando-se um valoroso lutador intrépido que vencera a Adrenoleucodistrofia!
Não havia sido nada fácil e ele sabia disso. Mas, vencidas as dificuldades primeiras da quimio, aquele jogo gostoso do controle dos leucócitos aumentando dia a dia, criava uma tensão gostosa ao se constatar a doença sendo vencida com as armas potentes da Medicina.
Ora, Lucca se esquecia que a Medicina, sozinha, não tem todo esse poder dos Super Heróis que povoavam a sua mente infantil.
Havia também que ser um amigo do peito do Papai do Céu e dos seus santinhos.
Afinal, Medicina nenhuma consegue o que quer que seja se o paciente não tiver essa amizade celeste. Mas o Lucca se apegou com os seus santinhos pedindo-lhes a intercessão divina.
Só que 19 de agosto era dia de greve no céu e os e-mails que partiam daqui encontraram provedores offline e não chegaram aos seus destinatários. E Papai do Céu não ficou sabendo o que faziam aqui com o seu amigo terráqueo.
Mas isso não consegue ofuscar o novo brilho que ele, agora, conectado conosco, envia anexado como um delicioso arquivo para dizer-lhe: – Vai, mamãe, escreve aí... nada de moleza... esse blog não pode acabar... tem muita gente precisando dele!!!
Beijos,
Vovô Edilberto
Lu, te mandei um email essa semana, eh a Bruna do fator.... Adorei ver que vc tomou essa decisão... Esqueci de comentar no e-mail que tbm tenho um blog, vem me visitar. Beijos, Bru
Nossa Lu, queria ter um paizão como seu... vc é o que é com certeza por esse respaldo todo que teve de toda a sua família...
Estaremos sempre aqui, te apoiando no que for preciso!!!
bjs
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