sexta-feira, 5 de junho de 2009

Lucca está com BK-vírus

Saiu o resultado do exame de PCR realizado em amostra de urina do Lucca colhida no dia 02/6, confirmando a presença de BK-vírus (BKV) em seu organismo, que é um tipo de polyoma vírus.

Isso explicaria a ocorrência dos dois picos de febre (de 01 e 04/6) e da hematúria (presença de sangue na urina) verificada há três dias -- a hematúria não é uma doença, porém pode ser sinal de alguma.

Valores inferiores a 500 cópias de BKV por ml de urina são considerados normais. Contudo, o exame do Lucca indicou presença superior a 39 milhões de cópias/ml.

Há, na verdade, 5 tipos de polyoma vírus (JCV, BKV, KIV, WUV e células Polyomavirus Merkel). Desses, o BK vírus é conhecido por criar leve infecção respiratória, sendo talvez o mais prevalente entre os pacientes transplantados. Sua ação é comumente associada aos rins, cérebro, fígado, olhos e doença pulmonar.

"Com o avanço na realização dos transplantes, a necessidade de manejar pacientes imunodeprimidos trouxe consigo a obrigatoriedade da suspeita clínica de infecções oportunistas, que são responsáveis por alta morbimortalidade nesta população. Bactérias e fungos pouco patogênicos na população imunocompetente e, principalmente, vírus que fazem latência passaram a ser, constantemente, agentes que colocam em risco os pacientes portadores de imunodeficiência primária ou adquirida", diz o trabalho Poliomavírus – um patógeno emergente para receptores de transplantes, desenvolvido por Juliana Montagner1, Tatiana Michelon2, Regina Schroeder, Bárbara Fontanelle, Alexandre Oliveira, Janaina Silveira, Márcia Graudenz, Cláudio Alexandre e Jorge Neumann.

BK vírus são extremamente comuns. Mais de 80% dos adultos possuem evidências sorológicas de exposição prévia e são, essencialmente, inofensivas, exceto quando o hospedeiro é imunologicamente deprimido. A infecção primária é, na maioria das vezes, completamente assintomática, persistindo indefinidamente como infecção latente nos órgãos-alvo.

A reativação viral pode ocorrer em diferentes momentos, especialmente em estados de imunossupressão em que a replicação viral é intensa e o sistema imune é incapaz de contê-la. Entre os pacientes receptores de medula óssea, a reativação do BKV ocorre em 50% a 60% dos casos, sendo esta prevalência mais alta entre os receptores de transplante alogênico -- caso do Lucca.

O local inicial da reativação é o trato urinário, e a sua primeira manifestação é a excreção assintomática do vírus na urina. Dependendo do grau de reatividade, ou seja, da intensidade da replicação viral, o vírus pode ser eliminado na urina sem entrar na corrente sangüínea, persistir na urina ou progredir para viremia e estabelecer doença.

A cistite hemorrágica é uma complicação comum nesses pacientes. Sua apresentação precoce, nos primeiros dias após o transplante, geralmente representa toxicidade a drogas. Entretanto, cistite hemorrágica de início mais tardio, entre 2 e 10 semanas pós-transplante, e com duração superior a sete dias, é freqüentemente associada à infecção por BKV.


Tratamento
Inicialmente, os médicos preferem adotar hidratação em abundância como terapêutica para tratar o BKV, por meio da infusão de bolsas de soro, associada á ingestão de muito líquido. Também sugere-se manter a quantidade de plaquetas acima de 50.000/mm3 para que a resposta seja mais rápida. Por conta disso, Lucca -- que está hoje com 22.000/mm3 -- receberá nova transfusão de plaquetas.

Opções secundárias de tratamento assentam-se na redução da imunossupressão (IS) e no uso de cidofovir em doses baixas (que foi descrito com sucesso em alguns casos com estabilização da função do enxerto e sem nefrotoxicidade importante). A imunoglobulina inespecífica (IGIV), uma terapêutica reconhecida para algumas infecções víricas como pelo citomegalovirus, contém anticorpos específicos para o poliomavírus BK e pode ser uma opção terapêutica nesta infecção.


Fontes consultadas:

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