terça-feira, 19 de julho de 2011

Artigo de opinião: Maternidade Tardia

por Mariangela Badalotti*

Pergunte a uma menina de classe média, na faixa dos 20, quais seus planos para os próximos 10 anos. Dificilmente, você ouvirá a resposta: “Quero ser mãe!”. Nesta idade, muitas estão iniciando a faculdade e ingressando no mercado de trabalho. Seu foco é o desenvolvimento profissional e não há nada de errado nisso. Estão planejando suas vidas de acordo com a realidade de seu tempo. Querem ser independentes – logo, como planejar filhos antes de ter uma mínima estabilidade?

Pesquisas apontam que, atualmente, 20% das mulheres esperam até os 35 anos para iniciar uma família com filhos. Do ponto de vista da construção de uma carreira exitosa, não há o que questionar. No entanto, o ovário da mulher, infelizmente, não acompanhou a revolução social e comportamental das últimas décadas. Ele continua envelhecendo na mesma velocidade de sempre. Ou seja, a partir dos 35 anos, a fertilidade da mulher começa a diminuir. A partir dos 37, essa queda é bastante brusca.

Esse alerta é importante porque, ao lado dos tantos desejos da mulher contemporânea, e muitas vezes sobrepondo-se a todos eles, está o sonho de ser mãe. Ele pode surgir mais tarde, ou, em algumas pessoas, nunca se manifestar, mas continua sendo um dos principais projetos de vida de homens e mulheres. Quem deseja postergar a maternidade deve estar alerta para alguns cuidados importantes com a saúde. O recado vale para os homens – a fertilidade deles também diminui, embora em menor proporção.

Evitar o cigarro é uma das primeiras medidas preventivas. As chances de engravidar diminuem em 20% para fumantes. É preciso evitar a ingestão exagerada de álcool e a drogadição, que aumentam a chance de infertilidade. O uso da camisinha é fundamental – no Brasil, uma das principais causas da doença é o fator tubário, decorrente de doenças sexualmente transmissíveis.

Os avanços na área médica têm ampliado muito as possibilidades de procriação para casais que enfrentam a infertilidade. O congelamento de óvulos é uma das técnicas mais valiosas neste sentido. Muitas mulheres que precisam adiar a maternidade optam por ele, para manter suas células jovens e aumentar as chances de engravidar.

No entanto, é errada a idéia de que a reprodução assistida é garantia de gravidez. Isso deve ser levado em conta por quem planeja ter filhos mais tarde. É preciso conhecer os obstáculos que podem surgir e fazer o possível para preservar a saúde e a fertilidade.



*Ginecologista, Doutora em Patologia, Coordenadora do Departamento de Ginecologia da Faculdade de Medicina da PUCRS e Diretora do Fertilitat – Centro de Medicina Reprodutiva.

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