sábado, 14 de março de 2009

Lucca teve um dia cheio de emoções

Hoje, Lucca teve um dia bem mais animado do que os anteriores. O que fez o tempo passar mais rápido por aqui. Tanto que mal conseguimos parar pra acessar o blog e mandar notícias novas.

Na verdade, tudo começou ainda de madrugada. Ele estava super 'aceso', um pouco tenso também, e não havia o que o fizesse pegar no sono. Falava várias vezes sobre seu receio de o catéter (ou "catécter", como ele batizou...rs) escapar-lhe do peito, e sobre estar preocupado, sem saber dizer exatamente com o quê. Um arzinho de angústia de vez em quando tomava conta do rostinho dele, mas a gente conversou bastante -- busquei serenidade onde não tinha, sempre na tentativa de responder às questões dele da melhor maneira possível, tentando assim tirar o aperto que sentia. Mas o s sono só o venceu às 4h da madrugada....

Quando acordou pela manhã, quase 10h, era a preguiça em forma de gente rs..... Não estava aparentemente indisposto mas não quis tomar o café da manhã. Disse-se enjoado, sem fome, com um pouquinho de tontura. Eu sabia que não era nada grave e que estava tudo dentro do completamente esperado nessa fase. Mas não posso negar: o aperto no meu peito foi enorme. Tudo que eu queria era me transportar pro exato lugar que ele estava...... Como não posso, em horas assim, tento tirar força da força enorme que ele tem. Porque, afinal de contas, 'a peteca não pode cair'!

Logo em seguida, Lucca recebeu duas visitas 'ilustres' rs... -- pessoas que ele estava muito ansioso por ver. Estou falando dos irmãos dele, meus filhotes Marccão e Lellinha. Meus pais foram quem os trouxeram, atendendo esse pedido enfático do Lucca. Foi uma festa só. A irmã tirou várias fotos dele e trouxe seu MP3 com músicas que o irmão gosta especialmente prá deixar com ele. Já o irmão veio pra que jogassem juntos uma partida no Playstation. Nem preciso dizer que deu briga, dessas típicas de irmão -- o que é sempre um bom sinal, de que está tudo dentro da mais feliz normalidade rs...

Eles foram embora pouco antes do almoço, momento em que Lucca mais uma vez recusou a comida, reagindo com náusea e vômito. Ele estava indisposto e isso tem a ver com os medicamentos quimioterápicos que começam a fazer efeito no organismo dele. Isso o deixou bastante tenso e chateado. Chorou dizendo que estava preocupado que isso fosse algum problema com o 'catécter'.

Procurei acalmá-lo, abracei forte como se quisesse colocá-lo de volta dentro da minha barriga... E, tentando manter o máximo de serenidade, expliquei a ele que essas sensações ruinzinhas que ele por vezes sente iam acontecer mesmo. Que eram normais e esperadas. E que nada têm a ver com o catéter, mas com os remédios que ele toma durante a quimioterapia. "Toda vez que você sente essas coisas chatas, Cucca, na verdade, é a quimio fazendo efeito no seu corpo, ou seja, são as células defeitosas, que te causam a adrenoleucodistrofia, que estão morrendo, prá que você possa receber as novas, que vêm do cordão umbilical", disse a ele, num tom lúdico, é verdade. Mas com o objetivo único de tentar confortá-lo da forma que eu podia fazer...

Por volta de 1h da tarde, a Dra Juliana, psicóloga da unidade de TMO do hospital, veio vê-lo para uma sessão de terapia, que integra o programa de tratamento. Eles leram uns livros juntos, falaram sobre algumas dúvidas do Lucca e, tudo isso, enquanto brincaram juntos num jogo de que ele gosta muito, o Cara-a-Cara.

Sua carinha já era outra nessa altura dos acontecimentos. E assim permaneceu mesmo quando teve início, às 14h10, a quarta sessão de infusão da quimioterapia. Tanto que, nesse meio tempo, ele pediu que ligasse pro McDonalds porque estava morrendo de vontade de comer Cheeseburger, com batatinha, Coca e Nuggets de 10 com molho caipira! Confesso que, num primeiro momento, hesitei em atender ao pedido dele. Mas ele insistiu muito. Pedi. E, acreditem: comeu todo o lanche, saboreando com gosto, feliz e satisfeito! A carinha dele naquele momento foi um presente dos mais especiais que eu poderia ganhar....

Só depois de lanchar, rendeu-se aos efeitos do Dramin (que havia tomado por conta dos enjôos e vômito) e pegou no sono. A quimio terminou às 17h10 e, dormindo ele estava, dormindo ele continuou. Só foi acordar às 6h da tarde porque precisava checar pressão, temperatura, oxigenação do sangue e peso -- controles que são feitos diariamente, pela manhã e à tarde.

Seu pai chegou poucos minutos depois prá vê-lo. Trouxe um presente de que ele gostou à beça: "um jogo de mágica super maneiro" (como Lucca definiu...), cujo truque ele já aplicou em todas as enfermeiras do andar rsrs... Riram, fizeram mágica juntos, assistiram TV, jogaram no computador.

No final da noite, foi a vez de Lucca ver o primo Gui, Tia Tata e Tio Junior. O priminho caçula Caio, que tem apenas 40 dias, infelizmente não pôde entrar no quarto por ser muito pequeninho e ter tomado vacinas recentemente. Em casos assim, o acesso ao quarto do paciente que está fazendo quimio não é liberado, nem mesmo usando as roupas especiais necessárias na UTMO.

Como comentei antes, por conta do tratamento quimioterápico e do transplante em si, Lucca não pode receber visitas -- para não correr o risco de ter contato com algum virus ou bactéria minúscula desses milhões de tipos que geralmente carregamos quando circulamos pela rua (mas que são normalmente dominadas e destruídas pelo nosso sistema imunológico, sem que sequer sintamos algo ou saibamos do que está acontecendo no nosso organismo).

Contudo, Lucca começa a ter destruídas células importantes de seu corpo -- tais como glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas e linfóticos. O que torna seu organismo nesse período absolutamente incapaz de driblar esses bichinhos microscópicos que se tornam feras perigosíssimas até que ele receba as novas células-tronco e haja a tal da 'pega'.

Ainda assim, os médicos entendem que há casos em que é preciso tomar cuidados extras e redobrados, tudo para atender a anseios como esse do Lucca -- de estar com o pai, com os irmãos e outros parentes próximos. Porque já é sabido o quanto o aspecto emocional interfere na evolução do tratamento e da perfeita recuperação do paciente.

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