Um assunto não muito conhecido pela população leiga, mas que preocupa pais e mães, sobretudo os de primeira viagem é a icterícia, popularmente conhecida como “amarelão”. A icterícia acomete, principalmente, recém nascidos, sendo mais frequente nos bebês prematuros.
O pediatra Sylvio Renan Monteiro de Barros alerta sobre uma série de quadros infecciosos, principalmente virais, que, acometendo a mãe durante o período gestacional, podem causar a icterícia, mas não só em recém nascidos prematuros. “É de extrema importância frisar e alertar aos pais que uma criança já grandinha pode também desenvolver icterícia, indicando um sinal de que esteja com alguma doença do fígado, ou do sangue, sendo importante o acompanhamento do médico pediatra”, diz o pediatra que atua na clínica MBA Pediatria.
O especialista explica que é preciso ter conhecimento de que na metabolização da hemoglobina (proteína presente nos glóbulos vermelhos que transporta o oxigênio do pulmão para os tecidos), sua molécula é quebrada, formando a bilirrubina. Esta, ao passar pelo fígado, sofre uma conjugação com outras moléculas, o que lhe permite ser excretada do organismo através das fezes e da urina. Se a produção de hemoglobina é muito alta, ou se o fígado apresenta problemas que o impeçam de conjugar a molécula, a bilirrubina se deposita nos tecidos, sendo que sua cor esverdeada permite que seja vista através da pele.
Autor do livro "Seu bebê em perguntas e respostas - Do nascimento aos 12 meses", o pediatra aponta que icterícia acomete mais o recém-nascido porque, durante sua formação, no estágio intrauterino, existe uma hemoglobina especial, conhecida como hemoglobina fetal. “Após o nascimento, com o início da respiração por via pulmonar, tais hemácias são destruídas em grande velocidade, iniciando-se a produção de hemoglobina adulta”. A grande quantidade de hemoglobina fetal se transforma rapidamente em bilirrubina e, se o fígado da criança não estiver ainda em sua maturidade total, ele não consegue processar toda a quantidade que lhe chega, sendo ela então depositada nos tecidos. “Quanto mais prematuro for o parto, assim como tanto menor for o tamanho do recém-nascido, maior será a probabilidade de ele vir a apresentar icterícia. É também mais alta sua incidência em partos cesáreos”, diz.
O tratamento da icterícia neonatal fisiológica -- imaturidade do fígado -- é feito com base nos resultados da dosagem das bilirrubinas. Em níveis mais baixos, submete-se a criança a uma fototerapia, na qual a criança é banhada por períodos longos com luz fluorescente do espectro azul, que tem capacidade de conjugar a bilirrubina, facilitando sua excreção.
Entretanto, se os níveis de bilirrubina estiverem acima dos parâmetros aceitáveis, ou com uma velocidade alta de crescimento, há necessidade de se realizar uma transfusão sanguínea denominada exsanguineotransfusão, em que se troca todo o sangue com altos teores de bilirrubina, por sangues de doadores, com a finalidade de se evitar a impregnação da bilirrubina no tecido nervoso cerebral – clinicamente conhecido como kernikterus -, o que pode levar a graves consequências caso este processo seja desencadeado.
O médico reforça que a icterícia neonatal pode ser prevenida com um acompanhamento obstétrico mais de perto, com a chegada do final da gestação, no sentido de se conseguir que o parto seja o mais próximo possível das 40 semanas, quando o feto já tem uma boa maturidade. Deve-se também evitar os partos cesáreos, cuja opção deve ser somente em casos de risco materno-infantil.
O pediatra afirma ainda que existem outras causas de icterícia, entre elas a incompatibilidade sanguínea entre mãe e bebê. Neste caso, a mãe desenvolve anticorpos contra o feto, gerando uma icterícia patológica.
Outra causa é a obstrução dos canais de drenagem da bile, do fígado para o intestino, sendo esta icterícia provocada por bilirrubina conjugada, que não consegue ser eliminada, devido ao quadro obstrutivo, causando o amarelão. “Neste caso, o tratamento é cirúrgico, visando à desobstrução do canal”, completa o pediatra que tem mais de 40 anos de atuação em pediatria infanto-juvenil.
Um comentário:
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